Major ZG76, NJG3 e NJG1
235
missões de combate, 52 vitórias (50 quadrimotores)
Prisioneiro de Guerra
"A
primeira vítima de uma guerra é a verdade.
Os fatos passam a ser
contados do ponto de vista do vencedor."
Martin Drewes
Nascido no dia 20 de outubro
de 1918
em Lobmachtersen no estado de Braunschweig, Martin Drewes estava destinado a se tornar um dos grandes ases da caça noturna,
tornando-se, para muitos a síntese dos jovens pilotos de caça com seu otimismo,
energia e agressividade. Ironicamente, como vários outros ases de seu tempo, ele
não iniciou sua carreira militar na Luftwaffe.
Pouco após completar seu 19º aniversário, Drewes juntou-se
original-mente ao Exército Alemão, sendo integrado no 6º Regimento de Carros Blindados
(Panzer Regiment 6) como Fahnenjunker em 02.11.1937. Lá recebeu um treinamento
básico e depois foi designado para uma escola de oficiais em Munique. Após a conclusão
do curso de cadete, ele foi promovido a Leutnant,
e um mês depois, transferido para a Luftwaffe.
Seu primeiro dia
de treinamento na Luftwaffe foi uma data célebre, 1º de setembro de 1939, o primeiro
dia da Segunda Guerra Mundial. En-quanto a Alemanha invadia a Polônia, Drewes
se preparava para vôos mais altos. O treinamento da Luftwaffe era intenso e tinha
uma parti-cularidade em relação aos treinamentos de hoje. A experiência do piloto
era medida em pousos e decolagens, ao contrário dos atuais treinamentos em que
o referencial são horas de vôos. Após 60 pousos e decolagens, o candidato poderia
fazer seu primeiro vôo solo.
Até
30.04.1940, Drewes freqüentou a Flugzeugfuhrerschule (escola de Pilo-tagem) sediada
em Havel, recebendo treinamento em técnicas de caça, sendo que encerraria seu
treinamento em fevereiro de 1941, na Zerstörer-schule (Escola de Caças Pesados)
em Schleissheim. No dia 09 de fevereiro de 1941 Drewes foi designado para servir
no 4./ZG 76 (4º Staffel da Zerstörer-geschwader
76), sediado em Jever-Wittmundhafen.
Suas primeiras missões
de combate foram de escoltar os navios do Reich pelo Canal da Mancha. A denominação
de seu gruppe era "Haifischgruppe". Desejava o batismo de guerra, ansiedade própria
dos recém-formados. Mas as ordens eram claras: a prioridade era a segurança dos
navios. Até então nenhum embate, nenhum tiro, nenhum avião abatido. O Oriente
Médio esperava, para ser o cenário de sua primeira luta nos céus.
Entre
maio e junho de 1941, Drewes lutou em uma das unidades menos conhecidas da Luftwaffe:
o Sonderkommando Junck. Esta unidade combateu no Oriente Médio, contra os britânicos,
principalmente nos céus da Síria e Iraque.
No dia 20.05.1941, numa das muitas operações
no deserto, Drewes deparou-se com um biplano Gloster
Gladiator da RAF, atirou e, depois de um combate complicado, atingiu-o. "Ele
entrou em chamas, mas vi que conseguiu aterrissar e seus tripulantes saíram correndo;
não atirei mais". Este foi seu batismo de fogo e a primeira das muitas batalhas
que viriam.
Ainda no Iraque, em mais uma missão, avistou um avião inglês
aterrissado no deserto, ao lado de um caminhão. "Parecia es-tar abastecendo; sobrevoei
metralhando para que ele não pu-desse mais levantar vôo". Ledo engano, sob a capota
do cami-nhão havia uma bateria de metralhadoras que responderam às rajadas e o
acertaram. Fez um pouso forçado no deserto e foi encontrado por tropas iraquianas
pró-eixo. Permanecendo pou-
co tempo nesta região, entre julho e outubro do mesmo ano, ele retornou
ao II./ZG 76, passando a operar a partir de De Kooy, nos Países Baixos.
Sobre a invasão alemã na URSS, que alguns
definem como o grande erro de Hitler, num caminho já palmilhado por Napoleão,
Drewes dá uma informação inusitada, mas com verossimilhança e lógica. "A invasão
da Rússia foi um ato defensivo. Se a Alemanha não invadisse, seria invadi-da".
Para corroborar sua afirmação, cita o livro "Der Tag M" (Viktor Suwo row, Stuttgart
1995). O livro, que é uma coletânea de informações que emergiram depois da queda
do muro de Berlim cita, entre outras, que as tropas russas encontradas na invasão
de seu território dispunham de veí- culos dotados de pneus próprios para as autobahns
alemãs, o quê, se-gundo Drewes, denunciava a intenção dos soviéticos.
Promovido
a Oberleutnant em 01.11.1941, Drewes transferiu-se
para a recém-criada Nachtjager (Força de Caças Noturnos) após um breve período
de adaptação às novas táticas de combate, sendo integrado ao 9º Staffel
da Nachtjagdgeschwader 3 (9./NJG 3),
sob comando do legendário Helmut Lent. Logo, suas habilidades
seriam postas à prova, quando, em janeiro de 1942, Drewes esteve envolvido na
Operação "Donnerkeil-Cerberus". Esta missão, planejada por Adolf
Galland, con-sistiu na evacuação de três grandes navios de guerra alemães
(os en-couraçados Scharnhorst e Gneisenau e o cruzador pesado Prinz Eugen)
do porto de Brest (França) para a Noruega, o que implicaria em uma "corrida"
pelo Canal da Mancha, infestado de aviões da RAF, que poderiam fazer em pedaços
as belonaves germânicas. Drewes e sua unidade, compuseram parte da cobertura aérea
feita durante todas as noites entre 11 e 13.02.1942. Os britânicos perderiam 60
aviões na tentativa frustrada de atingir os navios.
Após este feito, Drewes permaneceria algum tempo na Noruega,
como parte de uma unidade de caças noturnos designada para proteger o encouraçado
Tirpitz, então escondido em um fiorde daquele país. Retornando à Europa Central,
ele continuaria a efetuar missões de interceptação contra as crescentes formações
de bombardeiros noturnos da RAF, sendo que o seu número de vitórias foi aumentando
de forma gradual e consistente durante o resto daquele ano. Em fevereiro de 1943,
Drewes tornou-se Staffelkapitän
do 7./NJG 3, sediada em Copenhagen, Dinamarca, operando os Messerschmitt
Bf 110 guiados por radares terrestres "Wuerzburg".
Martin Drewes permaneceria
pouco tempo na Dinamarca, sendo transferido para o IV./NJG 1, sediado em Leeuwarden,
Holanda em junho de 1943; a partir de 15.08 daquele ano, foi designado para atuar
como Staffelkapitän do 11./NJG 1. Nesta Geschwader
ele sempre foi conhecido pelos seus amigos (entre eles Heinz
Schnaufer e Hans-Joachim Jabs), como um dos mais espirituosos
e bem humorados pilotos daquela unidade. O Oberleutnant Drewes foi condecorado
com a Cruz Germânica em 24.2.1944 e nesse
mesmo
mês passou a Kommandeur do III Gruppe
- função que desempenharia até o final do conflito. Promovido a Hauptmann
em 01.04.1944, Drewes também foi agraciado com o Troféu
de Honra da Luftwaffe um mês depois.
Na noite de 20-21.07.1944, durante uma missão
noturna sobre Tubbergen (na fronteira da Alemanha com a Holanda), na qual abateu
dois bombardeiros Lancasters da RAF, o avião de
Drewes foi atingido pelos destroços de uma de suas vítimas, que explodiu logo
acima de seu avião. Ele foi ferido, mas conseguiu abandonar seu Bf
110, assim como sua tripulação (o rádio operador Ober-feldwebel
Petz e o artilheiro Feldwebel Handke). Isto
faria com que o jovem Hauptmann permanecesse
algum tempo afastado das missões de combate.
Por estas conquistas, que
se tornaram as 47ª e 48ª vitórias confirmadas, Martin Drewes foi condecorado com
a Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro. Promovido
a Major em 01.12.1944, ele voaria sua última bem
sucedida mis-são na guerra na noite de 3-4 de março de 1945, quando
alcançou sua 49 ª vitória confirmada. Devido aos seus feitos pessoais e sua liderança
inspirada do III./NJG 1, em 17 de abril 1945 Martin Drewes foi comunicado por um
telegrama pessoal de Adolf Hitler, que ele havia se tornado o 839º soldado da
Wehrmacht a ser agraciado com as Folhas
de Carvalho da Cruz de Cavaleiro.
A guerra acabou para Drewes com a rendição de
toda a NJG 1 para as forças aliadas em 05 de maio de 1945. Após um período em cativeiro
aliado, Drewes foi libertado e decidiu reconstruir sua vida na América do Sul,
emigrando para o Brasil em 1949, onde viveu e a partir de 1988 desfrutou
de uma tranqüila aposentadoria no Estado de Santa Catarina, sendo que sempre demonstrou a mesma simpatia e educação de sua juventude.
Um convidado
freqüente de reuniões de veteranos e outros encontros históricos na Europa, o
Major Martin Drewes faleceu de causas naturais em 13.10.2013 na cidade de Blumenau-SC, sete dias antes de completar 95 anos de idade.
Durante sua carreira, Drewes voou 235 missões de comba
te (17 enquanto servia no Iraque),
durante as quais atingiu a marca de 52 vitórias,
sendo 50 quadrimotores (7 norte-americanos de dia e 43 britânicos à
noite) e dois caças.
"Em nenhum momento tive dúvidas
quanto à importância da nossa
missão.
Até os últimos combates nossa preocupação era uma só:
Proteger a população civil da Alemanha. Osbombardeios Aliadostinham efeitos
catastróficos e
deviam ser combatidos a todo custo."
Nossos
mais sinceros agradecimentos ao Sr. Martin Drewes, por sua colaboração
e atenção dispensada.
Alguns
trechos desta biografia foram tirados de uma matéria publicada no jornal
"A Notícia",
de Joinville-SC em 29 de agosto de 1999 e são
de autoria de Antônio Anacleto.